Actualmente designado por Rua Dr. Júlio Montez.

Descrição desta rua, publicada na Revista O Cartaxo, Novembro de 1998, de António R. A. Araújo:

Vamos descrever esta rua, começando pelo seu lado esquerdo, partindo do Largo do Valverde.

Na casa do topo viveu uma família com onze filhos: posteriormente foi adquirida pelo Rafael Florindo. Vem a seguir a casa do Fróis, que era ferrador; tinha muita criação, que, com frequência, fugia para a rua, e que depois dava muito trabalho a recolhê-la. Era com ela que o Fróis obsequiava os militares que vinham fazer as Inspecções, para livrar muitos que não queriam ir para a tropa. Mais tarde foi viver para a Rua Batalhoz.

Segue-se uma casa com um rés-do-chão alto que foi dos Pereira Lobo, que tinham uma casa agrícola, e que, nessa época, chegou a armazenar o vinho de duas colheitas, porque não se conseguia vender... acabaram por ser vendidas aos comerciantes por trezentos escudos a pipa!

Nesta habitação chegou a morar um senhor que tinha sido emigrante no Brasil, e que tinha a casa sempre cheia de moldes de gesso para ornamentar os tectos das casas. Posteriormente, foi habitada pelo António Gabirro que tinha uma filha com o nome de Liberdade; este nome esteve na "moda" na altura da revolução de 1910, através da canção:

"Liberdade, Liberdade, quem a tem chama-lhe sua, Só eu não tenho liberdade de pôr os pés na rua!"

Vinha a seguir a casa do nosso Tio Manel, também com um portão para o quintal interior, e uma porta e uma janela da residência. Estas duas últimas casas, mais tarde serviram para armazenar trigo da Moagem do Cartaxo. A casa do Gabirro foi adquirida pelo "Petrolino" que a alugou à Metalúrgica Cartaxense Lda. Actualmente há lá um edifício de segundo andar, com um café no rés-do-chão.

Depois havia outra residência do mesmo género, onde viveu o Silva, da firma "Baptista, Lda." de Santarém; esta propriedade que era do Ermenegildo Crespim, também serviu de habitação à Lurdes, enfermeira, que aqui viveu com a sua mãe até passar para a outra moradia do outro lado da rua, no mesmo sítio onde hoje mora a Maria Inocência. Segue-se o primeiro andar de J. J. de Almeida & Companhia Lda; no rés-do-chão havia os escritórios da firma, local de venda, e o armazém dos produtos num espaço interior que tinha saída para o Beco, no topo do qual se situava a entrada principal da Moagem do Cartaxo. Na parte esquerda do edifício vive a família Varela, e na parte direita vive a família. Gaia. Vem a seguir outro rés-do-chão, com um poial na porta de entrada, onde viveu o nosso amigo João Coelho, e que foi modificado para condizer com a residência seguinte que era do Almeida, cuja filha Octávia, que sabia tocar piano, casou com o Francisco Cid Ribeiro Mendonça.

A seguir ao Beco, na casa de topo havia uma oficina de bicicletas. Seguia-se-lhe a taberna do Victor Sardinha, onde se serviam refeições, propriedade que chegava até à rua Batalhoz. O Sardinha morreu inesperadamente e a viúva, a Maria Camoez, continuou a lá viver com uma sobrinha, que a ajudava no negócio, mais a sua filha Maria Joana. Mais tarde, a viúva casou com um sr. Ribeiro, que se dizia ser funcionário da CP, e a Maria Joana casou com um familiar do mesmo Ribeiro.

Continuando a descrição do que era a Rua Dr. Júlio Montez, agora do outro lado, e começando pelo topo que dá para a Rua Batalhoz, vem a Relojoaria Lanheiro, cujo filho José Augusto sempre foi meu amigo; Encontravamo-nos na aprendizagem de música: eu a tocar piano com cauda e ele a tocar violino! O José Augusto morreu cedo, ficando o Cândido, seu empregado, a dirigir a loja até hoje.

Depois havia um primeiro andar, com uma taberna por baixo, que teve vários arrendatários.

Vem depois dois edifícios "nouvelle époque"; um era do Carlos Pégo e o outro era do José Caiado da firma Leitão & Companhia Lda. Seguia-se uma pequena casa, pertença da Relojoaria Lanheiro, e logo a seguir um armazém onde se arranjavam as carroças, do Travado; este armazém foi adquirido pela firma J. J. de Almeida.

Depois vinha a residência do alfaiate Abel Vieira. pai da Maria Amália, uma jovem dos meus tempos. O Adelino Campos veio para o Cartaxo como empregado da J. Lde Almeida & Companhia Lda.; como era muito ativo fez-se sócio da firma, e arranjou namoro com a Maria Amália. Casaram e tiveram três filhos; um deles o Dr. Renato Campos, foi presidente do nosso Município durante vários mandatos Este e sua esposa, Dra. Maria José, muito fizeram continuam a fazer pelo nosso Concelho.

Vinham depois umas pequenas casas onde se construiu o actual edifício da Loja do Gaia.

A seguir e de topo para a Rua do Jardim havia um rés-do-chão da família dos Pereira Lobo onde viveram Adélia Pereira com seu marido Frederico H Guedes. A enfermeira Lurdes também aqui morou posteriormente. Atualmente existe lá uma magnífica residência de primeiro andar, de estilo à antiga portuguesa da Sra. Maria Inocência Marcelino do Nascimento Garcia.

Os meus parabéns pela tua bela moradia e que tenhas muitos anos de vida para a gozares, como grande cartaxeira que sempre foste! Do outro lado e até ao Largo da Rua do Jardim Valverde havia três moradias, todas de rés-do-chão A primeira foi de Francisco Travado; a segunda era a residência do Rafael Florindo e a terceira a loja do mesmo.

Assim, terminamos a descrição sintética do que foi a Rua Dr. Júlio Montez.

Revista O Cartaxo, Novembro de 1998